terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ilusão

Não foi de total surpresa ver que a prova só continha coisas estranhas para mim. Visto que na primeira fase a única questão que acertei de Química foi no chute, porém, imaginei que a segunda fase, por ser dissertativa, teria algo um pouco mais básico (Uma nomenclatura de uma cadeia carbônica talvez? Não que eu lembre isso =/...), mas não foi assim, qualquer um pode entrar no site da Fuvest e ver a prova, e entender o que estou dizendo, me achando burro por não saber, ou me achando normal por não saber, isso não importa de modo geral. Alias, aproveitando esse momento de maior proximidade com o leitor, quero aproveitar para ressaltar um fato novo nesse blog, talvez alguns ainda não tenham percebido (provavelmente porque poucos {onde poucos <= 3} o lêem), mas o campo de comentários deixou de existir, como sempre disse, escrevo mais para mim, é claro que admiro quando os outros lêem o que escrevo, afinal acredito que tudo que é escrito, é para ser lido, e quando alguém lê o que você escreveu, é como se ela lesse a sua alma, e isso para mim traz conforto, talvez a única fonte que me aproxima das pessoas, e me permite ser menos fechado, às vezes escrevo em forma de enigmas, para reservar algumas coisas, e deixar um clima de mistério, mas gosto verdadeiramente de escrever. E quando o que escrevo tem valor, é correspondido, me sinto feliz, sinto que existo e que tenho importância. Não vou mentir, o fato de cancelar os comentários se deve, principalmente, a minha besta ilusão. Não, não é por isso que é esse o título do post, na verdade os motivos são outros, mas a ilusão que me refiro, é o desespero de acreditar que alguém vai comentar em cada post que eu escrevo, que irão dizer palavras que eu preciso ouvir, e que irão entender o que eu quis passar. Sem comentários é como se não fosse lido, como se fosse um fantasma. Prefiro a ilusão consciente, por isso o cancelamento dos comentários caros leitores. Sem eles, posso acreditar que as pessoas leram, posso fingir que sou importante, que sou ouvido. Eu sei que existe a verdade em forma de dito ‘O que importa não é quantidade e sim qualidade’ mas eu ainda gosto mais de acreditar que todos se importam com isso, parece valer mais. Se alguém me perguntar na rua: “E ai, como foi na prova?” e eu falar: “Leia meu blog!”... qual a chance dessa pessoa ler? Eu realmente acredito que poucos se importam de fato em como eu fui. Ai que chega a chave do cancelamento dos comentários. E eles não precisam, e não é para isso que escrevo esses textos, escrevo porque gosto e me sinto bem com eles, escrevo para me lembrar de como eu era, como eu fui, e como eu vou ser. Esses textos são tão meus quanto jamais será de outra pessoa. Por isso todos as redações, provas, desenhos, muitas coisas minhas da época da escola que geralmente jogaria fora permanece guardada aqui, um amontoado de lixo, o único que guarda minha história e minha vida, o que, creio eu assim leitores, prova que minha vida é, de modo poético, um monte de lixo. Dizem que o cérebro guarda tudo, que cada um guarda sua essência, mentira, você não pode olhar para trás e dizer quem você era, não mudamos, é verdade, no fundo desde que nascemos temos traços que refletem até nossa morte, mas os sentimentos mudam, se as atitudes e a personalidade se mantém, os sentimentos e gostos vivem mudando, e lembrar que gostava de Tom & Jerry a 10 anos atrás não basta, você não lembra de um dia seu a dez anos atrás, um brinquedo bobo que ganhou, ou um inseto novo que descobriu, isso vai indo embora, e mesmo que fique registrado em sua massa cinzenta, você não pode acessá-lo, nem resgatá-lo. E é isso a vida não é? Os fragmentos que nos fazem o que somos hoje. E o único modo que tenho de acessá-los é com esses lixos, essas lembranças, e esses textos que sempre me revelam surpresas da minha própria natureza. Um monte de lixo, é isso que minha vida é. E isso não é ruim, é bom, porque ao menos minha vida é algo, posso dizer, apontando para uma montanha de papel, que aquilo é minha vida, e tenho orgulho disso. Por exemplo, uma carta, que uma vez escrevi, a um tempo distante, a mente guarda a informação que escrevi a carta, o sentimento que tinha, e todo o resto, minha mente não me traiu, acontece que ela também não é perfeita, e não guardou algo que só eu poderia ter guardado, o papel daquela carta, jogado num bueiro numa frustração em não conseguir entregá-la. Fico triste quando perco essas coisas, hoje, com tudo digital, é mais fácil perde-las, deveras ser o contrário, mas acaba não sendo. Muitas das minhas lembranças pessoais de 15 anos em diante foram em forma de e-mail, mensagens instantâneas... mas o cérebro não tem poder de guardar isso. Uma conversa cara a cara dificilmente é esquecida, talvez o conteúdo exato seja, mas a conversa não, o ambiente, a feição no rosto da pessoa, um barulho, a ida de volta pra casa, tudo fica guardado de forma incrível, e que faz você lembrar como foi aquela conversa... mas isso não acontece com um computador, conversas por MSN ou e-mail. É sempre igual, são sempre letras sem feições, sem cheiro, sem toque. Você lembra que brigou, você lembra que conheceu, você lembra muitas coisas, mas não tem certeza do que sentiu. E quase toda essa parte da minha vida se perdeu, junto com meus e-mails do hotmail, ou com os históricos do MSN e do ICQ, junto também com o fórum da Herói. Lembro do Loquito, ou quase isso, e daqueles fanáticos de Harry Potter, lembro de não gostar de Senhor dos Anéis, lembro de falar com pessoas distante pelo ICQ... mas não lembro de quem eu era, não lembro de nenhuma delas, mal lembro os nomes, quem dera as personalidades. É tudo, como a maneira já sugere, muito virtual. É assim que vejo essa época, por começar cedo nesse mundo virtual, e aliar minha fuga do mundo real com minha doença, que me manteve meses em casa, me tornei mais fechado, e aprendi a viver pelas palavras, não mais por mim. E é por isso que o meu ‘lixo’ é tão importante, porque o meu principal lixo, aquele que perdi no momento mais importante da minha vida, na minha época de ‘transição’, foi perdido, e tirando poucos vestígios, nada sobrou, não posso dizer que tenho um bom cronograma na minha vida, não sei que idade começou ou terminou algo, tudo foi perdido por um longo período de afastamento da minha mente. E agora, quero tentar recompensar, não quero mais perder minha alma, minha essência, quero eternizá-la seja da forma que for. E é por isso que escrevo aqui, é por isso que escrevo mais sobre mim do que sobre outras coisas, que escrevo minhas impressões sobre trailers, meus gostos sobre música, minhas revoltas quanto a tudo, porque é o que eu sou, e não quero perder o que eu sou agora, o que eu serei não importa, mas o meu agora sim. Imaginem, só por um momento, eu com 42 (claro xD) anos lendo esse texto? É mais do que uma lembrança do tipo ‘Ele bateu a cabeça, quase morreu, foi horrível, mas você vai ver, daqui uns dias agente está rindo disso’... é a mesma idéia, mas com conseqüências diferentes. Eu não vou apenas ver o que eu era antes, e rir disso, eu vou poder me analisar, me ver com 21 anos, e entender melhor o que aconteceu depois de dobrar esse tempo, e assim, quem sabe, não apenas me sentir mais vivo por resgatar parte de mim, mas também descobrir uma nova forma de viver. E é por isso que digo que esses textos são mais meus que de qualquer outro, eu sei que é legal, ler os comentários que me deixaram, relembrar os amigos que tive, me perguntar o que aconteceu com eles... mas não séria legal, perceber daqui 21 anos, que talvez eu não tenha sido lido, que talvez eu não tenha importância, que talvez eu seja muito ingênuo. Como disse, prefiro a ilusão, para que no futuro não precise questionar as mesmas coisas que me questiono hoje, para que continue registrando minha vida, mas sem o perigo de trazer más lembranças, e que se forem trazidas, que sejam de modos superficiais, e não profundos. Acredito ter me estendido bastante aqui, e gostei disso, acho que pude falar muito do que sentia falta. Mas o propósito desse post não é eternizar minha ideologia, e sim minha sensação nos dias das provas, que faz hoje, uma semana que fiz. Então, continuando... após ter queimado meus neurônios consegui fazer algumas questões, 4 se não me engano, com duvidas grandes no que estava certo e no que estava errado, mas não tinha mais idéias, estava cansado, bem esgotado, e já havia percebido que tinha feito minha parte lá. Entreguei finalmente a prova, ainda meio tonto, andando devagar, tentando me localizar. Não me lembro se fui no banheiro, ou se comprei algo, mas alguns minutos depois de ter saído da prova me senti inesperadamente bem, bem não, a bem dizer do momento, ótimo. Olhei para os dois lados da rua Vergueiro, procurando decidir. “Hoje vou no cinema” pensei, afinal, a prova de Química tinha duração de 1 hora a menos que a de português. Mas não daria certo, ainda sim ficaria tarde e seria chato chegar na casa da minha tia depois das 10 da noite. Pensei, o que então? O Centro Cultura estava fechado... não, eu precisava fazer algo, sentia que a cidade me chamava, não podia ficar ali parado. Vou ir em frente, e logo comecei a andar em direção a Sé. Ainda não sabia o porquê estava indo. Antes de passar em frente a estação Vergueiro finalmente vi um sentido em ir para o lado da Sé que me impedisse de entrar na estação. Ia na liberdade procurar o presente do William. Estava definido. Tinha uma boa caminhada até a Liberdade, de fato, é a Vergueiro inteira para andar, mas quem liga? Foi a segunda mais incrível que já tive, estava saindo de uma prova que definiria meu futuro, que tinha ido péssimo, andando por um lugar meio feio, com um sol horrível, e estava bestamente alegre, liguei para o meu pai avisar que estava indo para liberdade, e depois conversei com a minha mãe sobre a prova, logo já havia passado uma boa parte e já estava na frente do metrô São Joaquim, o que me fez lembrar alegremente o dia da Jedicon, olhei a ladeira que levava até a escola, e minha cabeça continuava cheia de pensamentos alegres, que nem sei quais eram porque não entendia o motivo da minha felicidade, estava esbanjando confiança, cabeça erguida, sabia o que estava fazendo, e não tinha medo de nada. Logo as ruas orientais começaram a aparecer, o teatro Machado de Assis, e a avenida pela qual eu andei até a estação Liberdade para meu pai me pegar, naquele dia, pouco tempo atrás, em que tinha feito a maldita prova da primeira fase. Sim, devo admitir que fui mesmo burro em escolher São Paulo para me inscrever e fazer as provas, mas não, não me arrependo de ter feito isso. Faz parte do ‘plano’ de conhecer melhor São Paulo, de me envolver com a minha decisão e investir nela. Não trocaria isso, mesmo com os gastos e o cansaço. E logo passei pelo Viaduto Guilherme de Almeida, olhando, como uma criança olha para seu novo triciclo, para os carros passando na Radial Leste – Oeste logo abaixo, tudo fluindo sem problemas, sem trânsito, sem buzinas... o longo horizonte ligeiramente visível, os prédios banhados pelo sol, pensei em como seria legal apenas tirar um foto, por nenhum motivo especifico, talvez de eternizar aquela sensação de completa paz interior. Assim que terminei de atravessar o viaduto entrei no Sogo. Deveria estar saturado daqueles olhos puxados malditos agindo como donos de tudo, mas não, fui confiante e subi as escadas em busca da minha missão, logo achei a loja, perguntei educadamente para o jovem imbecil que estava lá: “Vocês tem a antífona de gaea?”. E o incrivelmente competente vendedor: “Humm...” e deu de ombros. Não desisto: “Putz, eu acho que é verde”... e enfim “dá uma olhada nessas pastas aqui”... e então começo a procura. Imaginem a quantidade de pastas e de cartas, e eu lá, virando, parando nas verdes e olhando, por sorte lembrava vagamente do desenho, ou pelo menos minha confiança me dizia que eu lembraria se visse... desculpem a comparação idiota, mas é como se tivesse tomado aquela poção da sorte do Harry Potter... ¬¬... não surpreendente, enquanto o cara atendia um japonêszinho que comprava cartas do Yu-Gi-Oh e que me arrancava estranhos sorrisos de alegria de ver pessoas interagindo tão graciosamente, achei a carta na última pasta, o preço era uns 3 reais mais caro que na Domain, mas eu não sabia onde ficava a dita cuja, e me contentei com a loja de milhares de miniaturas da liberdade, por sinal, ainda compro aqueles bonequinhos do Final Fantasy, pena ser tão caros... mas enfim, após uma espera de uns 2 minutos, enquanto o menino finalizava a compra, que me lembro agora não era Yu-Gi-Oh e sim Pokémon, eu fiquei observando a loja, pensando em pedir ou não uma coca, mas não pedi, já havia gastado demais. Sai ainda feliz, passei por pessoas amontoadas na rua com cara de quem estava no pior dia da vida, mas continuava feliz... era como o Gene Kelly e seu guarda chuva cantarolando e pulando, mas não cantorolava e pulava, e nem tinha chuva... era mais como o Peter Parker no segundo Homem Aranha, ao som de Raindrops Keep Falling On My Head... enfim, já havia feito o que devia. Hora de voltar para Jundiaí? Não, não... não poderia ser... pensei em ligar para o Caio, será que agora ele iria querer fazer algo? Não acreditava nisso, e o fato é que meu dinheiro estava curto para abusar, ainda não desisti. Liguei para o Eduardo, perguntei o que ele queria de presente que não fosse mais que 20 conto e que achasse fácil em São Paulo, bem, quase 5 minutos no celular e ele não decidiu, coitado, ficou sem presente no dia 11, seu aniversário. Ok, não havia mais o que fazer mesmo. Atravessei a rua e me encostei num muro, sentando praticamente, na praça onde tem a estação Liberdade. Fiquei por longos 10 minutos parado lá, olhando o movimento, as pessoas com cara de morte, os japoneses com cara de tontos (existe um que não tenha?) e os jovens com cara de otakus (óbvio)... quase tive um acesso de loucura e vou para o zoológico, mas nada teria lá quando eu chegasse... ok então, desisto, que seja, e voltemos a Jundiaí. Mal dei dois passos na estação e logo um homem me para. Pediu, com honestidade, 4 reais para poder pegar transporte até onde ele morava, para ele e a mulher (apontando para a mulher), nem olhei para a mulher, instintivamente peguei a carteira em busca dos 4 reais, uma coisa que admiro sempre é a bondade das pessoas no que diz respeito a transporte, afinal, não tem coisa pior que ficar preso em lugar desconhecido por falta de dinheiro, acredito que seja por isso que mochilar dá certo. Então não me importei com muito mais coisas e dei 5 reais ao pobre homem, pois não tinha 4 certinho. O dinheiro me fez falta, sim, mas acredito que, se os fins dele eram reais, foram muito mais bem gastos com ele do que seria comigo. Não me despedi antes dele contar algumas coisas e me perguntar outras, em menos de 1 minutos eu sabia sobre sua vida, e ele sobre a minha, e assim nunca mais nos veríamos, com agradecimento e desejo de sorte me despedi, e fui comprar o bilhete do metrô. O horário já era próximo do de pico, e provavelmente o trem na Luz estaria lotado, então vi que estava na hora de por em pratica meu plano infalível: Pegar o trem na Barra Funda. Desci na Sé, fui para a Barra Funda, e de lá embarquei até a Luz, onde todos desceram, e eu sentei, esperando ele começar o percurso de volta. Um homem estava jogando um gameboy advance, bem velho até para a brincadeira, uns 30 no mínimo, e fiquei admirando a cara que ele fazia, as caretas, e a forma como uma criança sempre existe em nós. Mas logo o trem lotou e voltei ao meu estado de solidão coletiva. O sol entrava em todo o trem, e continuava descendo devagar. Ao chegar em Jundiaí, fui direto para a casa do meu amigo, entregar o presente dele. Andei pela cidade tranqüilo, com a habitual nostalgia de passear pela minha terra natal. Chegando em sua casa logo descubro que ele agora tem um cachorro, o que me deixa feliz, sempre achei que as pessoas precisam de bichos de estimação as vezes. Conversas meio dispersas, nada muito a falar, uma sensação de amizade em perigo, um distanciamento, mas no fim, nada que o tempo não resolva, nego, infelizmente, um convite de ir jogar pôquer na casa do Rudi, pois precisava mesmo ir para a casa da minha tia, e não podia deixar para pegar ônibus muito tarde, senão não saberia descer no ponto certo. E enfim vou para o ponto, já quase 8 horas. Encontro com meu tio no ônibus, o que mostra que o dia estava sendo feito conspirando ao meu redor. Chego na casa da minha tia, fico com uma vontade de jogar videogame, mas não jogo, vejo noticias na TV sobre o roubo do Masp, sobre os teatros que teria no Centro Cultural, sobre uma exposição legal, tudo no Metrópoles na Cultura, e depois fico brincando com um cubo mágico, e acabo percebendo que nunca vou conseguir montar um. Enfim, após perder meu tempo vendo o American Pie O Casamento até o fim e achando uma merda completa, vou dormir no sofá mesmo. E assim acaba mais um dia.
E até começaria a falar sobre o outro, mas é desnecessário dizer que já escrevi demais por hoje? Certo? Até a próxima então...
Boa noite e boa sorte...

Ops... sobre o titulo, é de um livro que ganhei da minha irmã, 101 viagens de sonho. Que tem uma introdução supimpa (xD) sobre viajar. E de como a idéia de que a viagem irá nos trazer paz e liberdade é ilusão, mas que precisamos dela para viver. Bem legal, talvez depois faça um ‘edit’ com o texto aqui. Ok? Agora fui mesmo... =P

Nenhum comentário: