Multidão Solitária Pt. 2
O trem parecia ter chegado rápido na estação Presidente Altino, onde Paulo descia para pegar o outro trem com destino a Barra Funda.
Assim que as portas abriram uma corrente de ar gelada tocou o rosto dos passageiros. Paulo ajeitou a blusa azul marinho em seu corpo e saiu com os braços cruzados. O céu estava completamente cinza e parecia que em breve uma garoa característica iria cair sobre a cidade.
Sem aviso, as pessoas começaram a correr, ele logo percebeu que o trem que esperava já estava na estação, correu um pouco também e entrou alguns segundos antes das portas se fecharem, desta vez, porém, foi em pé.
Uma sensação estranha começou a tomar conta dele assim que o trem partiu. A sua frente uma mulher de meia idade também em pé lia uma revista de forma desconfortável. Cada vez que o trem balançava a revista escorregava de sua mão e quase caia no chão, mas com habilidade a senhora sempre mantinha a revista parada a sua frente e parecia ler algo realmente interessante. Logo atrás da astuta leitora estava a porta, com sua janela para a cidade correndo lá fora.
Paulo estava particularmente interessado nessa paisagem. Percebeu que já fazia algum tempo que não prestava atenção aquela imensidão.
Estavam todos lá, em algum lugar, de alguma forma, estavam todos fazendo algo. Ficou por alguns minutos imaginando algumas dessas coisas, mais logo dois homens de traje social entraram no trem e atraíram sua atenção.
Pode parecer difícil encontrar sempre as mesmas pessoas em um trem que transportava milhares, mas em dois anos Paulo pode perceber que não era. Havia muitos rostos familiares todos os dias, variavam de vagão para vagão, mas geralmente dividiam o mesmo horário de embarque. Desde o cego com sua maleta surrada marrom até o alegre vendedor de controle remoto do viaduto Santa Ifigênia. Mas aqueles dois homens de social não eram familiares, não, bem pelo contrário, eles pareciam muito diferentes.
Logo se entendeu o porquê. O mais alto, com cara de segurança, começou a falar em inglês, enquanto o outro tirava um ‘estiloso’ celular do bolso e apenas fazia gestos com a cabeça que pareciam aprovar o que o amigo falava.
“Deve ser legal”, pensou Paulo, “Se tivesse um celular desse não andaria em nenhum transporte coletivo”.
Provavelmente ele não percebeu ao pensar nisso que, se com o transporte coletivo a poluição, trânsito e acidentes automotivos já traziam números alarmantes, sem ele, a cidade entraria num caos completo.
A medida que iam se movendo a garoa começou silenciosa. Ao seu lado um senhor tossiu alto, ao olhar distraidamente a cena, ele notou mais um rosto diferente. Dessa vez se tratava de um bela mulher, cabelos negros brilhosos, rosto liso, aparentemente macio, e, da distância que ele estava não podia ver imperfeições, tinha uma aparência serena, seus olhos castanhos aparentava ser mais novo do que ela, com um olhar de criança sonhadora; os olhos estavam concentrados olhando pela janela, admirando também a paisagem. Foi só então que Paulo notou a garoa, que, nesse momento, já estava se transformando em uma desagradável chuva.
Como aquela mulher, tão bonita e aparentemente contente podia olhar uma paisagem tão triste e sem graça com tal admiração?
Paulo sorriu, a misteriosa moça fez o mesmo. Ambos com o olhar ainda fixo na chuva do lado de fora.
Nesse momento idéias estranham começaram a passar pela cabeça dele. Não entendia nada, nunca tinha imaginado que poderia pensar em coisas tão malucas. Em certos momentos vislumbrou a possibilidade de descer na próxima estação, andar até se cansar e então viver como pedinte no meio da rua, dependendo da ajuda dos outros sempre por conhecer outros lugares de forma deplorável e mesquinha. Logo depois pensou quase as mesmas coisas, mas dessa vez não faria isso sozinho, dessa vez sentaria do lado daquela moça, conversaria até chegar à estação terminal, desceria com ela e andaria pelo mundo nos lugares mais bonitos que já se viu, e dormiria ao relento, olhando as estrelas distantes como seus sonhos.
“Mas está chovendo”, pensou.
Mais antes que sua parte racional pudesse prevalecer mas um turbilhão de idéias surgiram massacrando seu pensamento coerente.
De repente estava tudo escuro. Não via nada, e percebeu que estava agora em outra mente, estava na mente do cego da maleta surrada. Via, ou pelo menos pensava ver, tudo como ele. A escuridão, a claridade, as pessoas rindo, respirando, o barulho dos passos, e, em alguns instantes, até a batida de um coração cujo dono chegou apressado no vagão.
Piscou.
Agora estava pensando em coisas estranhas, não compreendia direito o que. Pensava em uma faculdade, e em como deixar a vida antiga para mergulhar em uma nova. No que ia gastar seu dinheiro e se devia ou não aproveitar para dormir sentado ali. Pensou que estava feliz apesar do sono, porque o filme tinha sido bom.
Piscou novamente.
Dessa vez sentia-se excitado. Olhava um rapaz de pé no canto do trem, perto da porta. O rapaz era ele. Não entendia como estava se sentindo atraído por ele mesmo. A sensação era tão estranha que ouve um estouro de pensamentos inarráveis. Logo em seguida Paulo desmaiou.
Obs: Peço desculpas pela demora, e pelos erros. Apenas digitei rápido e postei. E acho que não sei nenhum fim para essa história. ^_^
3 comentários:
Ooooh! Muito bom!
Eu gostei, mesmo que não tenha fim tem um sentido! ^^
Quanto aos erros, nem tem tanto assim viu? Um ou outro de ortografia que deu para ver agora... depois nós discutimos isso se você quiser.
Hmmmm o que mais?
Agora que o Paulo desmaiou será que alguém vai socorrê-lo? será que ele vai voltar outra pessoa, ter uma amnésia, subir um alter-ego nele?
Muitas probabilidades...
Você pode brincar bastante com isso!
Continue escrevendo! \o/
O meu Deus eu quero saber como vai acabar... eu preciso...
isso não é um conto, é?
porque você sabe que os contos é que não têm final...
mas você precisa fazer um final...
vai...
Oh... ritmo decaiu! Quase perdeu esta leitora!
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